quinta-feira, 27 de agosto de 2020

ESCOLA PANDEMIA

Nestes tempos de confinamento, muito se tem refletido (sobretudo questionado) sobre modelos de planificação, suportados por estratégias de “Ensino à Distância”, que possam ser propostos às famílias pelos profissionais de Educação de Infância.

Atrevemo-nos a dizer que estes não são tempos nem de “Ensino à Distância”, nem de “Ensino Doméstico” nem sequer de “Escola On-Line”…

Talvez seja mais adequado falar do tempo da “Escola-Pandemia”.

Ao longo das últimas décadas, muito do que se tem pensado como educação, na escola, foi-se transformando numa espécie de corrida pelos resultados, na qual as expectativas académicas, os testes standard, a competição extrema entre estudantes (e famílias), o quase desaparecimento das artes e das humanidades dos currículos e a diminuição das expressões têm levado a compreender a escola de forma distinta do que nos exige o tempo de Covid-19.

Este modelo escolar baseia-se em estratégias de pressão e stress, move-se por “objetivos” e pelo controlo funcional do tempo na escola (e às vezes também na família). Mesmo que disso não tenhamos consciência, esta pressão normalizou a ansiedade e as depressões e fez esquecer que, o mais importante, talvez seja a forma como aprendemos.

A “Escola-Pandemia” vem propor-nos mudanças e obriga-nos a refletir, a reinterpretar as nossas funções a partir de casa.

Com as creches, jardins de infância, escolas e universidades encerradas, as famílias tentam assegurar o seu sustento enquanto cuidam dos seus membros mais velhos e tentam responder aos (inúmeros) pedidos das escolas. Somam a esta dificuldade o ter que continuar a trabalhar, com a incerteza do que acontecerá depois desta crise. Os jovens e crianças, sem os contactos relacionais e a interação social a que estavam habituados, tentam “navegar” neste novo tipo de escola, ao mesmo tempo que são expostos aos horrores do Covid-19 que lhes alterou todas as rotinas que conheciam.

Claramente não vivemos tempos de normalidade e ninguém espera que esta “Escola-Pandemia” funcione da mesma forma que aquela que conhecíamos.

Porém, esta escola anormal, talvez nos traga alguns desafios interessantes, nomeadamente o desafio de valorizar dimensões esquecidas na formação dos seres humanos.

Talvez este seja um momento adequado para fazermos uma pausa! O que é urgente aprender?

Precisamos aprender a dar atenção aos altos e baixos emocionais, a manter a motivação, a readequar rotinas, a viver em família a tempo inteiro com tudo o que isso implica, a lavar bem as mãos, a não tocar na face, a não visitar amigos e família.

Precisamos também de aprender a utilizar formas alternativas de chegar aos mesmos fins e a deixar os jovens e as crianças descobrir o que lhes pode interessar.

Aprender, neste momento, implica abandonar a corrida aos resultados, esquecer as grelhas e as classificações, acabar com julgamentos e penalizações e tentar compreender como nos podemos ajudar, enquanto coletivo, enquanto Humanidade.

Talvez seja uma oportunidade para os docentes, enquanto pessoas e profissionais, aprenderem com os seus alunos e as suas famílias.

É importante respirar fundo e perceber que só ganharemos este tempo que vivemos, se nos mantivermos juntos (afastados).

E isto não é “Ensino à Distância”, não é “Ensino Doméstico”, na realidade não é nada que conheçamos!

Mas ninguém pode negar que estamos a aprender, dia após dia.

Sem comentários:

Enviar um comentário